O ano de 2008 foi o pior ano da minha vida. Percebia que o tempo ia passando, uns dias à velocidade da luz – “já passou tanto tempo?” – outros a um passo de caracol – “só?”. A verdade é que no ano de 2008 a velocidade a que o tempo ia passando me parece, hoje, relacionada com tempos penosos caracterizados por grandes epifanias de sofrimento – “cada dia parece um ano, quero que isto acabe, preciso de voltar a respirar”. A constatação da realidade e a aceitação de que há arestas que não merecem ser limadas levaram-me ao mais sentido sentimento de vazio.
Relembrei, ao longo de momentos repetidos, que o caminho perseguido até então estava viciado e observado apenas com um olhar que não era o meu. Voltar a olhar paras as coisas e para as pessoas com o meu olhar, com o meu pensamento e com a minha genuína absorção da alma de outrem foi uma tarefa muito espinhosa. Por momentos pensei que tinha perdido a guerra e não apenas mais uma batalha de tantas que já tinham marcado os “dolorosos anos”.
Percebi que a aceitação é uma religião que, por tal, é absurda, estúpida e sem sentido. Aceitar o quê? O inevitável? Aceitar? A resignação de que chegou ao fim a longa caminhada da idiotice e do “maior erro da minha vida” seria, no mínimo, imatura. Por isso, é para a frente o caminho, pensei. Saídas impossíveis, assinaladas como tal. Entradas utópicas, ainda que sinalizadas como a “única coisa que me resta”. A esta altura o tempo urgia, via que os pequenos pormenores definíveis de mim se estavam a esvair em direcção à grande cova anteriormente desenhada de forma quase artística. “Porque tu gostas de esmiuçar-te até ao mais ínfimo pormenor”.
Então, um dia percebi que mais do que aceitar, era importante desejar, projectar, planear, combinar, viver, sorrir e rir, saltar, gritar, abraçar, brincar, sorrir ainda mais, apanhar os bocadinhos que restavam de mim e reconstruir-me, agarrar as mãos de todos os pedacinhos de pessoas que passavam por mim, viver sem a consciência da respiração ofegante e nervosa que me acompanhava há tanto tempo. Foi aí que percebi que desejava viver, sem raízes doentes anteriormente enraizadas no terreno tão prolífero que eu era. Desejei destruir as ervas daninhas do meu jardim. Desejei viver ainda mais…
Quando voltei a viver… o tempo começou a passar outra vez rapidamente e eu tornei-me fecunda. “Anseio viver novamente, preciso de vida”.